quarta-feira, 22 de junho de 2011

Keine Lust, einen Titel zu machen (ou "sem vontade de fazer um "título")

    Depois de 3 tomadas de decisão antagônicas e a respeito do mesmo tema - ir ou não ir à festa de aniversário de 25 anos de casamento do meu professor - resolvemos atender ao convite. Estávamos em dúvida se iríamos ou não pelo motivo óbvio de não ter certeza de aguentar tamanha indiada. Como o sábado começou chovendo e, portanto, sem perspectiva alguma (apesar de ainda ter 1/6 do quebra-cabeça inacabado), e também pra ter uma desculpa decente pra usar o terno que trouxe do Brasil, nos vestimos e pegamos os trens até o local. Dois trens e cerca de 1 hora e 20 minutos de viagem chegamos à escola de dança onde seria a festa.
    Erramos a nossa mesa porque passamos reto pela entrada, onde tinha um papel indicando a mesa de cada um, mas 15 minutos depois nos auto-corrigimos. Achamos estranho mesmo aquelas velhinhas vindo sentar na nossa mesa. Sem contar que a esposa do professor (que por tabela também comemorava 25 anos de casada) veio nos cumprimentar, nós não sabíamos quem era, não entendemos nada do que ela falou e não demos a menor bola pra mulher. Tudo sempre se justifica com um "Wir kommen aus Brasilien. Wir sprechen fast kein Deutsch" (Nós somos brasileiros e não falamos muito bem alemão). Tirando as intempéries, até então tudo igualzito a qualquer aniversário de 25 de casamento aí na terra brasilis. Até começar a música. Difícil descrever, mas qualquer um que já foi a uma Oktoberfest, Kerb, show de bandinha alemã, etc. sabe do que estou falando. Esse povo não nasceu pra fazer música. Difícil aceitar que Beethoven, Bach, Strauss e Schumann nasceram por aqui.
    Eu estava achando estranho que não foi só uma vez que o professor, na semana passada, veio me perguntar se eu dançava "como é mesmo a dança no Brasil? Salsa né? - Não, professor, é samba. - Iiisso mesmo, samba". Mas até aí tudo bem, afinal seria uma festa em uma escola de dança. Durante a festa mais duas ou três perguntas iguais. Mas tudo bem, daqui a pouco tem dança e ele quer nos deixar à vontade.
    Durante o velho discurso dos donos da festa que 'agradeçem a todos que vieram, blá blá blá', houve até uma menção aos 'que vieram de mais longe entre todos: os brasileiros'. Começada a festa e aberta a pista de dança, constatamos que a inaptidão pra música vem seguida de perto pela inaptidão à dança desse povo. É o famoso 'inimigos do ritmo'. A frase "tem alemão no samba" nunca fez tanto sentido.
    Para tudo, outra mini-homenagem, outros agradecimentos e então acontece o pior: "gostaríamos de chamar aqui um casal de brasileiros que está aqui hoje. DJ, coloca um samba aí!". Àquela hora o foda-se já estava ligado mesmo. Levantamos e fomos. O que podia acontecer de pior? Eis que então o DJ, em um ato digno de expulsão do sindicato dos DJs por justa causa, dá play na desgraça. Esse foi o samba escolhido por ele: http://www.youtube.com/watch?v=ivYIR-nazXA . Pra quem não conseguiu abrir, é a música "Africa" da banda "Toto". Procurem na internet e tirem suas conclusões.
    De dar orgulho a qualquer professor de "improvisos aplicados à dança", dançamos samba ao som de "samba". Depois rolou um "Volare", que rendeu outra dancinha e fomos nos sentar. Agora não só com o foda-se ligado, mas no modo turbo. Azar do goleiro.
    O proxeneta do outro professor tirou a Ana pra dançar e me vi obrigado a dançar com a esposa dele. "Dançar".
    Pelo menos exercitamos o nosso bixo-do-matismo, o que sempre é bom. Ah, e conseguimos carona na volta, o que abreviou os 2 trens, 2 ônibus e 1 hora e 30 de viagem a 25 minutos e largados à porta de casa.
    Afora os percauços, tudo ocorrido dentro ddos conformes. Foi bom. Valeu a pena.
   
Ps.1: Terminamos o quebra-cabeças de 1000 (hum mil) peças. Preguiça de fazer um post só sobre isso.
Ps.2: Aí está começando a escurecer mais cedo? Aqui escurece cada vez mais tarde. São exatamente 22:45 e ainda dá pra ver claridade no céu. Abaixo uma foto tirada hoje às 22:30.
Ps.3: Final de semana em Paris, ou seja, semana que vem tem mais. Aguardem.



Sol das 22:30:




sexta-feira, 10 de junho de 2011

Mobilidade urbana

    Notícias aqui da longínqua Germânia: compramos bicicletas. Bicicletas, bici, magrela, zica, cabrita, bike ou 'das Fahrrad', como dizem aqui. Usadas, é claro, porque comprar bicicleta zero aqui é como comprar carro, só fazendo consórcio. Um amador, no entanto, como nós, certamente teria dificuldade em diagnosticar que elas já foram usadas.
    O que antes significava sair de casa 10 minutos antes do horário do ônibus, ficar na parada esperando, pagar, ficar de pé e, 20 minutos depois estar no centro, hoje significa em 10 minutos e, especialmente de graça, estar no mesmo centro. Enfim, uma beleza. Sem contar o exercício físico, modalidade da qual estamos afastados a uns bons incontáveis meses. Adutores e bíceps femurais que o digam.
    Na Alemanha andar de bicicleta é coisa séria e tem leis de trânsito pra isso. Não é aquele oba-oba com que estamos acostumados lá na praia. Tem mão certa, todas bicicletas têm farois dianteiros e traseiros alimentados por um dínamo ligado à roda e até pisca-pisca. Com as vantagens de não ter que pagar auto-escola e de que dirigir alcoolizado não é crime. Não que a gente tenha pensado nisso. Mas sempre é bom. Todas ruas têm espaço destinado às bicicletas e, quando não têm, a calçada é do ciclista. Danem-se os pedestres. Aliás, nas ruas também, a preferência é sempre delas. Se tu quer seguir reto e o carro do teu lado esquerdo quer virar à direita, ele para, espera tu passar e então segue sua vida. Muito perto da definição mais conservadora de 'cidadania'. Até documento elas têm.
    Cada vez que me lembro do trânsito da Independência ou da Goethe às 18h penso que uma excelente saída para uma cidade é este tipo de transporte. Aqui, em um país em que qualquer pessoa pode comprar um carro de excelente qualidade por não mais que 20 mil Euros (que não podemos converter pra Reais, porque aqui eles ganham em Euro), muita gente simplesmente escolhe comprar uma bicicleta ou andar de ônibus e metrô. Professores universitários chegam na Universidade de bicicleta. Há bicicletários por toda cidade e, ao contrário dos carros, não se paga pra estacionar. E isso que o clima aqui não é lá muito amigável, mas mesmo a 0º em gente indo trabalhar de bicicleta. Foi o célebre H.G. Wells que um dia disse "Toda vez que vejo um adulto em uma bicicleta, eu já não me desespero quanto ao futuro da raça humana"... isso em uma época em que Henry Ford ainda tentava vender a ideia do automóvel e as carroças e carruagens é que eram as responsáveis por se empilharem em congestionamentos. E por empilharem montes de estrume de cavalo no meio das ruas. A única diferença foi que a porcaria gerada pelos escapamentos passou do chão para o céu, lá longe, lé em cima, onde ninguém consegue ver. E se não vemos, nos sentimos melhores.
    Claro que não adianta nada comprar uma bicicleta e tentar mudar o mundo se a cidade não oferece estrutura alguma. Na melhor das possibilidades se chega em casa são e salvo e com o nível de estresse duas vezes maior do que quando saiu do trabalho.
    Outro fator determinante para aliviar o maldito problema do trânsito é o crescimento horizontal da cidade, ao invés de vertical. Por aqui não se veem prédios com mais de 5 andares, onde moram, no máximo, 10 famílias. Nada daqueles prédios de 20 andares, com 6 apartamentos por andar e 120 carros com pessoas saindo e voltando do trabalho à mesma hora e mais 80 carros de crianças indo e voltando da escola, também às mesmas horas. Isso só no bloco A do condomínio que vai até o D. Se ao menos os planos diretores das cidades fossem feitos visando agradar ao cidadão ao invés de um poderoso lobby de empreendedoras e construtoras...
    Mas ok, filosofia deixada de lado, as seguintes fotinhos foram tiradas com o celular, por isso estão toscas. Paciência.